Segundo Joyce, o filho Guilherme estava tendo dificuldades em realizar um exercício e o professor, Vitor Barbosa, orientou-o a usar uma bola para treinar. Quando o menino pediu a bola a duas colegas, elas se recusaram a entregar, o que o deixou irritado e ele chutou a bola. Uma das alunas deu um tapa na cabeça dele, iniciando uma confusão. O professor então teria dado uma rasteira no menino, jogando-o no chão e segurando-o pelo pescoço, ameaçando-o.
A escola suspendeu o aluno por dois dias, alegando que ele desrespeitou o professor e agrediu fisicamente os colegas. Joyce só conseguiu agendar uma reunião na escola cinco dias após o ocorrido.
"Eu cheguei lá para conversar, para entender o que tinha acontecido e eu saí de lá sem uma resposta. Ninguém falou, assim, ele não foi agredido. Porque eu só queria ouvir isso. Ou ele foi, mas nós tomamos as medidas. A minha vontade é que ele não colocasse mais os pés dele nessa escola", diz Joyce.
Só no final de março deste ano, seis meses depois da agressão, durante uma audiência, é que ela teve acesso às imagens da aula de capoeira.
"E eu olhei para o professor, quando eu saí do fórum, e eu falei para ele: 'Eu vi o que você fez com o meu filho'. Meu braço formigou, meu rosto tremeu, e eu fui parar no hospital", relata a mãe.
A defesa do professor Vitor Barbosa afirma que a intervenção foi uma técnica de imobilização para impedir novas agressões e que a situação foi prontamente controlada.
O Centro Educacional Meireles Macedo informou, em nota, que adotou todas as providências cabíveis e que o professor não está mais vinculado à instituição.
Joyce chegou a matricular o filho em outra escola, mas ele não conseguiu se adaptar e agora recebe aulas em casa.
"Ele passou a ter muitas desregulações, ele batia na cabeça, batia a cabeça na parede, coisa que nunca aconteceu aqui em casa, passou a acontecer. Fiquei muito mal", disse.
O impacto da violência para crianças autistas
"Qualquer criança que sofre uma violência, e nós estamos falando aqui de maneira especial em crianças autistas, há vários problemas implicados. Você pode aumentar a probabilidade de depressão, ansiedade, o próprio desempenho acadêmico", explica Lucelmo Lacerda, doutor em educação.
"Na escola a gente precisa que, do porteiro ao professor regente, a direção, todo mundo esteja preparado pra isso. Porque todos os espaços da escola são espaços educacionais. A escola é lugar para as crianças autistas, não há a menor dúvida. Elas têm direito à educação".
Acolhimento
A Escola Municipal Rubens Berardo, localizada no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, se tornou um porto seguro para mães e crianças autistas da comunidade. Foi ali que Rafaela, mãe da Maria, e Viviane, mãe dos gêmeos Rafael e Heitor, encontraram o acolhimento que tanto buscavam. As três crianças são autistas não verbais.
"O autismo dói pra gente todo dia. E quando a gente não tem acolhimento na escola, piora. E aqui ela está sendo amada e acolhida", diz a Rafaela.
A escola segue as diretrizes da legislação brasileira, que garante a crianças autistas — de escolas públicas e privadas — o direito a um acompanhante em sala de aula. Além disso, oferece planos de ensino individualizados, respeitando o ritmo e as necessidades de cada aluno.
Por Fantástico
Fonte: g1